terça-feira, 27 de setembro de 2011

Gramática

Vem cometer comigo
aquele velho erro de próclise.
Deixa que eu grite,
ocultando o sujeito e
contrariando a gramática.
Te adoro.
Te quero.
Te amo.

Padrão

Depois de meses, ela me liga. A voz rouca e mole no telefone indica que há pelo menos dois maços amassados sobre sua mesa, do lado esquerdo da garrafa de vinho vazia.
- Como você está? Quero te ver.
- Então pegue uma foto minha e fique admirando.
Desligo. O telefone toca de novo.
- Pare de ligar. Não sou um boneco.
O outro lado da linha explode em lágrimas.
- Quando você vai entender que, para receber, é preciso dar algo em troca?

Apagou

Eu acho que vou pegar
suas camisetas limpas,
as usadas também,
e enfiar no meu cu
junto com o amor,
com as cartas,
e com a brasa
do último cigarro
que dividimos no escuro
e que também apagou.

22/08/2011

Um dia você vai mostrar
por livre e espontânea vontade
o que eu vi de clandestina,
espiando por buracos de fechadura.
Não se recrimine, amigo.
Eu mesma encontrei
enormes dificuldades
em mostrar o que me vai por dentro
sem jogar as tripas no ventilador.
Quando acontecer, você nem vai ligar
se tá tudo exposto, ou ameaçado.
E o tempo que você passou guardando
vai parecer perdido.
E o que você colocar pra fora,
por mais feio e sujo que seja,
vai ajudar a construir
o universo de alguém.
Não tenha medo das feridas.
Afinal de contas, elas só são
realmente doloridas
quando quem porta o punhal
é você mesmo.
Enche esse copo, amigo, e acredite:
seus sentimentos estão mais perto
do que seu coração e o garçom imaginam.

A merda toda

é que o ser humano
idiotinha
só consegue
apreciar o cheiro
de flores mortas
e já arrancadas.