quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Outro golpe seu

e as palavras fluem
como um milagre.
Mais un ano disso
e eu consigo publicar
um livro
ou qualquer merda
que o valha.
Eu só espero que o peso poético
não me esmigalhe
antes.

Consegue

A vida de hoje
é bizarra de tal modo
que quando se tenta ser feliz
você não consegue.

Todos estão à sua volta
cantando dores variadas
e quando você quer sorrir
você não consegue.

A máscara da melancolia
gruda tão forte na sua cara
que quando você quer tirar
você não consegue.

É tão mais fácil ser triste
e mais seguro ser blasé
que quando você quer sentir o vento
você não consegue.

Você compra tanto
a idéia de ser só
e quando quer confiar em alguém
você não consegue.

E apesar de tudo, quando
você só quer dar as mãos
e esquecer um pouco
dos motivos infinitos
pra mantê-las separadas
você não consegue.

Você veste a máscara do solitário
admira Jimmi, Janis, Kurt
e quando (finalmente)
acha alguém pra amar
você não consegue.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Gramática

Vem cometer comigo
aquele velho erro de próclise.
Deixa que eu grite,
ocultando o sujeito e
contrariando a gramática.
Te adoro.
Te quero.
Te amo.

Padrão

Depois de meses, ela me liga. A voz rouca e mole no telefone indica que há pelo menos dois maços amassados sobre sua mesa, do lado esquerdo da garrafa de vinho vazia.
- Como você está? Quero te ver.
- Então pegue uma foto minha e fique admirando.
Desligo. O telefone toca de novo.
- Pare de ligar. Não sou um boneco.
O outro lado da linha explode em lágrimas.
- Quando você vai entender que, para receber, é preciso dar algo em troca?

Apagou

Eu acho que vou pegar
suas camisetas limpas,
as usadas também,
e enfiar no meu cu
junto com o amor,
com as cartas,
e com a brasa
do último cigarro
que dividimos no escuro
e que também apagou.

22/08/2011

Um dia você vai mostrar
por livre e espontânea vontade
o que eu vi de clandestina,
espiando por buracos de fechadura.
Não se recrimine, amigo.
Eu mesma encontrei
enormes dificuldades
em mostrar o que me vai por dentro
sem jogar as tripas no ventilador.
Quando acontecer, você nem vai ligar
se tá tudo exposto, ou ameaçado.
E o tempo que você passou guardando
vai parecer perdido.
E o que você colocar pra fora,
por mais feio e sujo que seja,
vai ajudar a construir
o universo de alguém.
Não tenha medo das feridas.
Afinal de contas, elas só são
realmente doloridas
quando quem porta o punhal
é você mesmo.
Enche esse copo, amigo, e acredite:
seus sentimentos estão mais perto
do que seu coração e o garçom imaginam.

A merda toda

é que o ser humano
idiotinha
só consegue
apreciar o cheiro
de flores mortas
e já arrancadas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Garrafa

Estou parada na maior avenida do Brasil
às 5 da tarde
lembrando que eles
me disseram que eu poderia
ser quem eu quisesse,
apesar de eu não ter controle
sobre nada na minha rotina,
a começar pelo horário que meu despertador
toca.
Estou parada na maior avenida do Brasil
às 5 da tarde.
Mais que os carros,
estão congestionadas as vontades.
Esta expectativa inútil de realizá-las
me sufoca enquanto
espero por um sinal que nunca ficará
verde.
Estou parada no meio de um engarrafamento
de sonhos
na maior avenida do país
sob o sol das 5 da tarde
tentando convencer a mim mesma
de que toda essa bosta
não é tão difícil
e mortificante
quanto parece.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O casulo da autoconfiança

Ela me chamava de Baudelaire, mas só nos momentos íntimos. Ás vezes estávamos entre amigos e ela me vinha no ouvido:
- Vamos pra casa, Baudelaire?
E depois sorria de um jeito inexplicável, malicioso e ingênuo, como uma criança que admite o desejo pelo biscoito antes do almoço. Saía correndo e largava tudo que estivesse fazendo, me despedia apressado das pessoas mais sóbrias enquanto ela esbarrava de propósito com as pernas entre as minhas, andando na frente e mais devagar que eu. Não foi uma vez só que não conseguimos chegar no carro.
Ela morava sozinha, já havia viajado as cinco regiões do Brasil e eu era um rebelde sem causa, morando ainda na casa dos pais, prestes a terminar a faculdade de Psicologia na PUC e com planos não tão sérios de mestrado no Rio de Janeiro.
O sexo era ótimo, acendíamos um baseado antes da segunda vez e ficávamos contando as estrelas adesivas que estavam coladas no teto do quarto dela. Nunca consegui terminar a conta.
Depois que tudo terminava, ela às vezes se levantava, pegava um livro de cabeceira e ficava recitando versos só de calcinha, balançando os cabelos bagunçados e fazendo trejeitos com a mão esquerda, que segurava um cigarro. A fumaça desafiadora dançava em círculos pelo ar e eu, também fumando, ficava deitado fingindo a seriedade da platéia de um teatro europeu.
A nossa primeira vez, inclusive, foi seguida de uma dessas performances, daí o apelido. Eu pedi um copo de água e ela foi buscar, entregando-o para mim com uma reverência:
- Algo mais, gentil senhor?
- Não, muito obrigada, respeitável senhora. Agora você pode voltar a recitar versos pra mim - brinquei.
Imediatamente, ela endireitou o corpo e começou:
- "Vens tu do céu profundo ou sais do precipício, Beleza? Teu olhar, divino mas daninho, confusamente verte o bem e o malefício, e pode, por isso, comparar-te ao vinho"
Ela vinha caminhando para a cama com o corpo balançando suavemente, os seios mudando de forma e sombreado conforme eram atingidos pela luz amarela do abajur. Começou o próximo verso e foi passando a mão por todo o meu corpo, me olhando fundo nos olhos. A voz baixou:
- "Em teus olhos refletes toda a luz diuturna, lanças perfumes como a noite tempestuosa. Teus beijos são um filtro e tua boca uma urna, que torna o herói covarde e a criança corajosa."
Colocou a cabeça em meu peito e beijou com carinho o meu pescoço. Sussurrei:
- Baudelaire. Estamos evoluindo.
Ela deu uma risadinha, eu fui por cima. Durante todas as preliminares, ela continuou recitando o poema com a respiração ofegante até eu colocar uma camisinha. Depois, fechou os olhos e não falou mais nada.
 Fumávamos em silêncio quando olhei pra ela e, como uma piada, disse:
- Acho que encontrei a minha "flor do mal".
- Meu bem, se esse for todo o mal que você vai querer que eu faça, diria que estou totalmente satisfeita com o meu posto, - passou a mão no meu cabelo - meu Baudelaire particular.

"É isto, então

é o mesmo que antes
ou que da outra vez
ou da vez anterior à essa."
Eu fico aqui sentada
com uma cara enorme de
palhaça
maquiada
olhando pra uma tela colorida
de computador,
com um termômetro embaixo do braço,
e só o que tenho
são os graus que indicam uma febre
e aquele gosto maldito e familiar
de decepção.
Penso que nós, mulheres,
viemos mesmo
dos palhaços.
A habilidade em contar piadas,
o polegar opositor,
o gosto pela pintura na cara
e a boca muito vermelha
são só resíduos.
O que fode tudo, mesmo,
é a gradíssima facilidade
em sermos feitas de trouxa.
E a normalidade
com que encaramos isso.
Lá fora, o abatedouro
continua funcionando.
Ouço as risadas
da vida universitária
daqui de cima.
Sigo esvaziando maços,
à espera
do toque no celular.
Eu espero que a vida em comum
reserve menos
do que isto.

Tempo verbal

Não avisaram no primário
sobre o futuro do pretérito, 
recheado com a triste perfeição 
do que seria, mas não foi.
Eu provaria, beijaria, cuidaria,
você ligaria, eu ficaria, eu gostaria.
Eu deixaria, conquistaria, eu amaria.

Nasci pro impossível.
Por pouco, não sou viável
e, muitas vezes, também me pergunto
como é que eu vim parar aqui.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Meia hora de sessão

Tirei os óculos, esfreguei os olhos. Pela sombra visível da porta de vidro eu já sabia que ela estava à espera. Mesmo se a porta fosse de madeira, até de chumbo, o som muito alto dos fones dela e o perfume desgraçado que saía daquele corpo denunciaria. 
Ela estava ali.
Quando o relógio bateu 17h30, suspirei. Levantei, pronto pro combate, e abri a porta, sempre esperando um cumprimento que nunca recebia. Ela entrou como um furacão pela sala, como sempre fazia, jogou a bolsa em uma ponta do divã e sentou na outra, cruzando as pernas.
Paciente difícil, essa. Difícil, principalmente, porque era gostosa. Era complicado prestar atenção no que ela falava quando mudava de posição, alongava o pescoço ou ajeitava o sutiã. Eu ficava sempre na mesma pose, feito um idiota, assistindo ela ajeitar as meias e contar sobre a décima vez que atirou um copo em alguém, em um bar qualquer. 
Difícil, em segundo lugar, porque era totalmente doida. Vocês sabem do que eu estou falando, não do tipo doida que liga e desliga o fogão 14 vezes antes de sair de casa. Ela fazia perfeitamente aquele tipo de mulher meio louquinha, cheia de modernidades, perdida, ansiosa, intensa, sem pudor nem amarra social de qualquer espécie. 
Quando ela sentou e não acendeu o cigarro de costume, estranhei. 
- E aí, como passou a semana?
- Passei bem. Não volto semana que vem.
- O que houve, vai viajar?
- Não doutor, eu não volto nunca mais.
- Me conta o que aconteceu.
- Não aconteceu nada, fora o fato de que você está destruindo a minha vida.
Não pude disfarçar uma risadinha irônica, mas quando olhei bem pra cara dela vi que estava muito séria.
- E porque você acha isso? Você tem tido muito progresso desde que começou a vir aqui.
- Progresso pra você. Você está me deixando estável, e isso é tudo que eu não quero ser. Não me reconheço mais, não faço mais as coisas que eu gostava muito de fazer. Sabe quanto tempo não pego numa caneta, doutor?
- Ora, mas isso é normal, você está se descobrindo, mudando e com mais algumas semanas...
- Eu fiz uma pergunta, você não ouviu?
Às vezes ficava pensando em quem levava a sessão, se era eu ou ela.
- Há quanto tempo você não pega numa caneta?
- MESES. Você sabe o que é isso? Eu não passava uma semana sem escrever uns versos ou uma crônica.
- E o que te faz pensar que é culpa minha?
- Você está me deixando normal. Tá mandando pro saco tudo que existia em mim de instinto, vontade, ímpeto, força de pensamento e de expressão. Tá matando o que é mais importante pra mim.
- Mas eu estou te ensinando a viver melhor, a amadurecer.
- Eu não tenho nem 25 anos, então se o senhor me desculpar, eu não quero amadurecer. 
- Sua vida piorou tanto assim? Pelo que eu saiba você está indo melhor nos seus relacionamentos, não está mais tendo crises nervosas e não chora há semanas. Um dia você me disse que até gostava de vir aqui.
- E eu gosto. Mas gosto mais de quem eu era antes. Se eu tiver que viver uma vida instável pra produzir material literário, é isso que eu vou fazer. Escrever é parte de mim. Não quero viver sem esta parte.
- Ora, isso é algo que também podemos trabalhar, na semana que vem eu posso...
- Que parte do "eu não volto nunca mais" você não entendeu? 
- Tudo bem. Se você quer assim, você é maior de idade. E eu não acho que o seu caso é grave pra te obrigar a continuar comigo.
Concordei com ela internamente. O que ela ia virar, se resolvesse todas as suas questões? Cada problema resolvido era um passo na direção de se tonar uma mulher sem impetuosidade, totalmente cinza.
Realmente, não fazia o estilo dela.
Levantou, ajeitou o vestido, pegou a bolsa e saiu, colocando os fones.
- Qualquer coisa me liga, ok?
Minha resposta foi a porta do consultório fechando sem suavidade nenhuma.
Merda. Abri a agenda e risquei o nome dela da lista. As pacientes gostosas estavam ficando cada vez mais raras. A maioria achava um romance ou uma foda fixa e geralmente desaparecia. 
Abri um armário com chave, enchi um copo de whisky e mandei tudo pra baixo. Ia precisar de muitos daqueles pra aguentar a velha chata, dona de 5 gatos, que viria em seguida. Parece que são só essas que estão restando pra mim, ultimamente.
Tanto pra aprender e a gostosinha foge assim, feito um passarinho assustado. Lamentei nossa despedida. Pensei em muitos encerramentos diferentes, algo envolvendo o motel vizinho, talvez.
Mas me deixar aqui, parado, sem qualquer misericórdia, foi de foder com a porra toda. Além do mais, nem aproveitamos nosso último dia juntos. Foi só meia hora de sessão.
Mandei mais um trago e tirei o telefone do gancho.
- Jaqueline? Pode mandar a dona Rita entrar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Algodão

Me sinto como Bukowski
numa noite escura de inverno.
Veja, imagino que seja inverno
porque ninguém deseja algodão
se não estiver frio lá fora.

O ponto é:
eu me sinto como Bukowski,
que só queria garotas
limpas e calmas
em vestidos de algodão.
Pra te falar a verdade,
eu acho que o pobre Charlie
só queria uma paz
que durasse mais
que uma gozada.
Ele nem se importava
com vestido nenhum.

Aí eu te pergunto,
Charles Bukowski,
Onde é que estão
todos aqueles garotos
calmos e limpos
com camisetas brancas
e corações sem mancha
feitos de algodão macio
enquanto os artistas, os bêbados e os publicitários
continuam me encontrando?

Ela

Ela
está sempre aqui.
Acabou de chegar,
ou está de saída na porta,
ou segura o elevador pra mim,
ou fica parada na frente
da estante de livros,
mas está sempre presente
em tudo que sinto.
Se sinto amor,
vejo seus olhos
me encarando
no espelho do banheiro
Se não sinto,
é ela quem assopra o chá
e passa a mão na minha cabeça.
Que raio de presença é essa,
que não vai embora,
nem diminui,
mas só aumenta
a ponto de me fazer
querer estourar os miolos
e mandar pro diabo
de uma vez
essa merda toda?
Presença não quista,
influência mal vista,
sentimento maldito,
não dito, infinito.
Melancoliazinha filha da puta!
É você? Pode entrar.

Próxima volta

Quando imaginei o que a vida reservava pra nós dois, esperava muito. Esperava fogos de artifício. Esperava consumir toda minha energia na fogueira alta dos sentimentos. Esperava que queimássemos juntos, você e eu, nas chamas do amor jovem, do amor paralisante, do amor que desconhece tempo, e que por desconhecer o tempo é eterno e transitório em sua essência.
Esperava tudo, menos isso. Esperava tudo, menos a realidade.
Já me falaram uma vez que a consumação de um sonho o destrói por completo. Eu, como boa ariana que sou, ansiava e temia o fatídico, porém inevitável, momento de encontro entre nossos corpos. Eu, como boa ariana que sou, temia que esse sonho morresse, junto com tantos que duraram dias, alguns semanas, outros minutos.
Temia a evaporação do sentimento. Gosto de sentir, e sentir por ele é algo especialmente prazeroso por alguma razão desconhecida por mim, mas conhecida pela inteligência maior que arma e desarma encontros nesse planeta.
Sem pensar em mais nada, no entanto, atendi ao chamado que me foi feito. Com uma pequena prece, caminhei decidida para o mundo encerrado entre os braços dele.
Por algum motivo que eu temo definir, oh meus irmãos, a realidade foi muito, mas muito melhor que qualquer coisa que meu coração afobado pudesse imaginar.
A realidade me deu algo que eu jamais poderia ter criado. Nunca, nos meus sonhos mais selvagens, nas minhas noites mais longas sorrindo, sentada na beirada da cama olhando o céu, eu poderia criar o que a realidade me reservava.
A realidade me deu detalhes.
Detalhes sublimes que eu lembro com um sorriso leve no rosto.
O cheiro da pele. O toque das mãos. A espessura do cabelo. O gosto da boca. A falha na barba, bem embaixo do queixo. O perfume dele, que ficou nos lençóis. O jeito que ele fala ao telefone. O jeito que coloca batata palha por cima de todo o strogonoff, metodicamente, antes de comer. O jeito que ele dorme, sem me largar um minuto sequer. O jeito que ele segura minha mão quando caminhamos em público e o jeito que eu me deixo levar, numa confiança cega.
Com o coração disparado, penso em meu íntimo que valeu a espera. Valeria mil anos de espera, se assim fosse. Valeu todas as decepções anteriores. Os minutos de montanha-russa definitivamente valeram as horas em pé na fila do parque.
Refeita da enxurrada de sensações, percebo-me dependente e viciada (pasmem) na droga inebriante da realidade.
Sem saber quanto tempo vai levar até a próxima volta, vou denovo pra fila do brinquedo, com animação igual ou maior que a anterior.
Não posso evitar. Sou humana. Sou mulher.

Janela

Eu estava deitado, com os braços atrás da nuca. Ela levantou da cama, acendeu um cigarro e abriu uma fresta de janela. Já tinha amanhecido.
As pontas dos cabelo iam de um lado pro outro com o vento encanado que entrava e refletiam a luz do sol, que já brihava com toda a força.
- Tem um mundo lá fora, sabia? A gente aqui, isolado, prestes a dormir. E lá fora as pessoas estão acordadas, cuidando de suas obrigações. Só que aqui dentro tudo tem muito mais vida. Não acha?
A luz que entrava pela fresta era mais branca que o pijama dela e dava a todo o quarto um quê angelical. Virei pro lado e com um sorriso, pedi:
- Descreve pra mim.
- Tem um velhinho andando devagar. Tem uma moto passando, e ela parou no sinal vermelho. Uma mulher passeando com o cachorro acabou de atravessar a rua. Tem outra moça descendo a ladeira com um carrinho de feira.
Ela olhou pra mim, fechou a fresta de janela e chegou mais perto. Dei lugar na cama pra ela. O sol não entrava mais no quarto mas eu ainda via o corpo dela muito iluminado. O rosto, o cabelo, as mãos, o colo. O pijama muito branco.
Ela chegou bem perto de mim e me beijou na boca.
O quarto não estava mais escuro e toda aquela luz, bem...aquela luz eu tinha certeza que saía dela.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Embora

Nós dois somos
aliados estranhos
com corações em guerra.
Ás vezes, um contra
o outro.
Ás vezes, contra nós
mesmos.
Acredito na sorte
que me deu você
e que me obriga
a duelar no imaginário,
a responder poemas
com poemas,
como este,
como aquele
e todos os outros.
Espero um golpe de luz,
espero fogo e faísca,
espero eventos gritantes,
pra decidir minha vida.
Tenho medo de agir sozinha.
Tenho medo de ser coagida.
Tenho medo de não ser perfeita
e, principalmente, de ser.
Tenho infinitos medos
estragando o quadro.
Espero empuxo inicial
pra ser forçada a agir.
Mas isso não significa
que a vontade de ficar
não me corrói por dentro.
Ficar
é tudo que quero.
No teu plano de batalha
só tem um erro,
quiçá fatal.
Tu me consideras longe
tu me consideras ida.
Mal sabes que quando acordas,
estou te olhando nos olhos.
Mal sabes que enquanto chamas,
eu nunca fui embora.



"Ó mulher! Porque me chamas?
Na verdade nunca fui embora.
Adormeça, meu amor,
imaginando-me ao teu lado
leia-me olhando nos olhos
Estou misturado às letras
estou ancorado a tua cabeceira."
Grings.

Romantismo, hoje em dia

se resume na puta
que só trepa em motel
que tem "Love" no nome.

Impassíveis

Sentada num banco recluso
no canto direito do balcão,
vejo você caminhar entre mesas,
percebo o balançar inseguro
do teu corpo e mente.
Você para, confuso, na porta
a procurar o meu rosto
entre as pessoas na calçada.
Meu coração despedaça
porque também não sei
quem sou e pra onde ir.

Quando teus passos hesitarem, eu
quero pegar na tua mão, eu
vou te levar com doçura pelos
caminhos desse hospício, pelos
labirintos dessa falida odisséia.

Caminha comigo, juntos construiremos
o gênese.
Caminha comigo pra não mais procurar
coisa alguma.

Seremos milagre em semente
brotando entre pedregulhos.
Seremos sentimento puro
brotando do asfalto do caos
vitoriosos e impassíveis
contra os problemas sufocantes
deste pavoroso mundo moderno.

Assistência técnica

Alô? Por favor,
é da assistência técnica?
Mandem um representante
com a máxima urgência.

O meu lirismo
está vazando.
A partir de agora, não sei mais
o que deve ou pode acontecer.