sexta-feira, 4 de março de 2011

Próxima volta

Quando imaginei o que a vida reservava pra nós dois, esperava muito. Esperava fogos de artifício. Esperava consumir toda minha energia na fogueira alta dos sentimentos. Esperava que queimássemos juntos, você e eu, nas chamas do amor jovem, do amor paralisante, do amor que desconhece tempo, e que por desconhecer o tempo é eterno e transitório em sua essência.
Esperava tudo, menos isso. Esperava tudo, menos a realidade.
Já me falaram uma vez que a consumação de um sonho o destrói por completo. Eu, como boa ariana que sou, ansiava e temia o fatídico, porém inevitável, momento de encontro entre nossos corpos. Eu, como boa ariana que sou, temia que esse sonho morresse, junto com tantos que duraram dias, alguns semanas, outros minutos.
Temia a evaporação do sentimento. Gosto de sentir, e sentir por ele é algo especialmente prazeroso por alguma razão desconhecida por mim, mas conhecida pela inteligência maior que arma e desarma encontros nesse planeta.
Sem pensar em mais nada, no entanto, atendi ao chamado que me foi feito. Com uma pequena prece, caminhei decidida para o mundo encerrado entre os braços dele.
Por algum motivo que eu temo definir, oh meus irmãos, a realidade foi muito, mas muito melhor que qualquer coisa que meu coração afobado pudesse imaginar.
A realidade me deu algo que eu jamais poderia ter criado. Nunca, nos meus sonhos mais selvagens, nas minhas noites mais longas sorrindo, sentada na beirada da cama olhando o céu, eu poderia criar o que a realidade me reservava.
A realidade me deu detalhes.
Detalhes sublimes que eu lembro com um sorriso leve no rosto.
O cheiro da pele. O toque das mãos. A espessura do cabelo. O gosto da boca. A falha na barba, bem embaixo do queixo. O perfume dele, que ficou nos lençóis. O jeito que ele fala ao telefone. O jeito que coloca batata palha por cima de todo o strogonoff, metodicamente, antes de comer. O jeito que ele dorme, sem me largar um minuto sequer. O jeito que ele segura minha mão quando caminhamos em público e o jeito que eu me deixo levar, numa confiança cega.
Com o coração disparado, penso em meu íntimo que valeu a espera. Valeria mil anos de espera, se assim fosse. Valeu todas as decepções anteriores. Os minutos de montanha-russa definitivamente valeram as horas em pé na fila do parque.
Refeita da enxurrada de sensações, percebo-me dependente e viciada (pasmem) na droga inebriante da realidade.
Sem saber quanto tempo vai levar até a próxima volta, vou denovo pra fila do brinquedo, com animação igual ou maior que a anterior.
Não posso evitar. Sou humana. Sou mulher.

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